Pintando com a luz

O trabalho do fotógrafo, assim como o carste, tem dupla conformação. Do lado do relevo exterior, é o de registrar a beleza da paisagem natural iluminada pelo sol dos maciços, das águas e da vegetação exuberante. Do lado interior, subterrâneo, o trabalho é o de revelar a beleza oculta das formas desconhecidas, que repousam na escuridão completa do fundo da gruta. Com a luz do flash, o fotógrafo faz ressurgir os volumes, as cores e as feições surpreendentes do calcário, expondo um mundo quase surrealista de colunas, animais e entes fantásticos.

No interior das grutas, o fotógrafo pinta com a luz, fazendo com que, em centenas de disparos do flash, a luz revele a beleza das formas. É mesmo este o nome da técnica usada: pintura com a luz, light painting.

O processo é pesado, lento e na maior parte das vezes penoso. As dificuldades começam no acesso às grutas: trajetos demorados em estradinhas precárias, longas caminhadas até a entrada das cavernas carregando o peso dos equipamentos fotográficos, às vezes abrindo trilhas no meio da mata, enfrentando o sol, o calor e uma infinidade de mosquitos. Isto para se chegar na entrada das grutas: em algumas destas, é preciso rastejar à luz das lanternas por dezenas de metros em corredores e aberturas estreitas e baixas, na lama que ficou das últimas chuvas, para se alcançar os salões em total penumbra.

Somente então é possível começar o trabalho: enquadrar a foto, configurar a câmera, andar lentamente no piso escorregadio de barro, pedras soltas e vãos inesperados, na escuridão quase completa, para disparar o flash um número infindável de vezes iluminando todos os ângulos do objeto. Conferir e repetir o processo, uma manhã inteira para captar duas ou três fotos, obras de arte e de técnica, configurando o trabalho de revelar os vários mundos antes invisíveis do fundo das grutas, expostos na beleza das formas lentamente moldadas pela natureza ou pela presença humana nas peças arqueológicas.