Caminhos sobre as águas

“Em Minas Gerais, a ‘contação’ de história é parte do cotidiano. Em tudo se acrescenta um detalhe. Nenhuma resposta é pronta. Sempre há lugar para mais conversa. Quando perguntado sobre algo, o mineiro responde sem pressa: ‘Vem cá moço, puxa a cadeira que vou te contar’. E assim, devagarim, caprichando nos detalhes, engolindo sílabas, o mineiro conta suas histórias. E foi atrás da história do Lago de Furnas que viajamos para as cidades de Formiga e Pimenta, na Região Oeste, e depois para Guapé e Capitólio, na Região Sul-Sudoeste do Estado, para ouvir histórias e conhecer os caminhos das águas.”

Assim começa o livro Caminhos sobre as águas, resultado do trabalho do fotógrafo Cyro José Soares e da historiadora Jacyra Antunes Parreira. São fotografias e textos que mostram os municípios localizados às margens do Lago de Furnas, numa perspectiva do antes e do depois das águas.

Foi a partir da construção da Usina Hidrelétrica de Furnas, na década de 1960, que se formou o grande lago, de extensão até então nunca vista no Brasil. Um acontecimento que deixou marcas profundas na vida da população afetada pelas águas, assim chamadas pelos moradores, de forma quase solene. As águas invadiram terras e fizeram desaparecer propriedades e até cidades inteiras. O tempo das perdas se foi. Hoje as águas são motivo de ganho, de beleza e de encantamento.

O turismo é a grande fonte de renda porque as belezas naturais convidam os visitantes.

Caminhos sobre as águas faz um registro do cotidiano, capta fragmentos da memória e, com base na fala dos moradores, constrói a história dos lugares. Além das paisagens, da geografia, da fauna e da flora exuberantes, os diversos fazeres culturais foram fontes para este trabalho.

Além do lago, as cidades têm algo em comum, os muros de pedras. Construídos em tempo de mão de obra escrava, são de pedras empilhadas sem cimento, enormes, atravessando pastos e guardando segredos nunca revelados. Cada um com um tipo de pedra e desenho característico. São lindos, ora misturados à vegetação, ora livres, descobertos, a céu aberto. Sua função foi de fazer limite, de cercar. Hoje são decorativos e revelam fragmentos da história das cidades.

Em Formiga, a produção é rica e diversificada. De polvilho a flores, passando pelos bordados, tudo é produzido de forma artesanal. Nas comunidades próximas ao Lago de Furnas, há um expressivo investimento no turismo, em clubes e resorts.

Também no Município de Pimenta, a riqueza da história se alia às belezas naturais. Santo Hilário se apresenta como um capítulo à parte, pois, a cada dia, um espetáculo se descortina para quem tem o privilégio de apreciá-lo.

Guapé teve sua história marcada pela perda de metade da cidade e de grande parte do território. Mas se refez, renasceu, reconstruiu a vida e hoje oferece diversão nos esportes náuticos e radicais. Apresenta sua natureza exuberante, a beleza dos paredões de pedra, a delicadeza das orquídeas, a força das cachoeiras e as delícias produzidas nos arredores.

Capitólio, Rainha das Águas, é dona de encantos naturais, como os cânions, e de grandes investimentos imobiliários. Luxo e conforto se juntam às belezas. Sua produção artesanal é consumida pelos turistas, que fazem triplicar a população em épocas festivas.

O trabalho foi um passeio pelas águas e por caminhos que levaram ao belo, ao exótico e à fartura. Fartura no sentido de vida, de conhecimento, de pessoas que reencontraram saídas e, hoje, orgulhosas, apresentam os caminhos que se refizeram sobre as águas.”

Jacyra Antunes Parreira

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